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MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO


O QUE ESTÁ POR TRÁS DOS CRIMES AMBIENTAIS NA AMAZÔNIA

 

Em outubro de 2021, uma operação do Ibama junto com a Força Nacional de Segurança Pública no sul do Amazonas fechou uma frente de desmatamento em uma área federal ainda não destinada. Lá foram presas dez pessoas, apreendidas doze motosserras, destruído um barracão de apoio com materiais e suprimentos. O crime ali não era só o desmatamento. A área estava sendo preparada para a grilagem.

Mas o que chamou atenção naquela operação foi o relato de um dos presos que eles estariam recebendo R$ 250,00 por dia de trabalho, um valor muito acima da diária de um trabalhador braçal no país. Dez pessoas, R$ 2.500,00 por dia, R$ 15.000,00 por semana, R$ 60.000,00 por mês; mais os custos com equipamentos e suprimentos. Um investimento alto desses somente com a certeza de retorno certo e lucrativo.

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Ainda no mesmo mês, outra operação da Polícia Federal com o Ibama, apoiados pelas Forças Armadas, contra o garimpo ilegal na TI Kaiapó no sudeste do Pará, foram destruídas quarenta e duas pás cavadeiras (retroescavadeiras ou PCs na linguagem do garimpo). Uma PC custa no mínimo R$ 500.000,00; o prejuízo para o crime ali foi por baixo 21 milhões de reais.

Durante a operação o sistema de inteligência descobriu que um comboio com dez PCs estava estacionado em uma cidade próxima da TI, aguardando a operação acabar. Mais 5 milhões de reais de investimento no crime. O lucro com o crime ambiental é muito alto. Perde-se 21 milhões de reais, se investe rapidamente 5 milhões, não pode parar, investimento muito alto para ficar retido.

Destrói-se quarenta e duas máquinas, dez já estão prontas para continuar o crime. Prende-se dez operadores de motosserra, vinte são colocados na semana seguinte. Mas como essa cadeia criminosa se alimenta e sobrevive, quem a alimenta.

As redes organizacionais dos crimes que afetam o meio ambiente na Amazônia estão escalonadas em três níveis. No nível inferior estão os operadores de motosserras, de PCs, de maquinário, motoristas de caminhão, boiadeiros, etc; são os operadores do crime. Mão de obra farta e barata na região. No nível intermediário estão comerciantes, empresários e políticos locais, pessoas físicas e jurídicas, pequenas e médias empresas, muitas de fachada, “laranjas”. São responsáveis pela logística, pelas contratações e aquisições, pelo transporte, suprimentos, escoamento, são os gerenciadores do crime. No nível superior estão os financiadores do crime. Grandes organizações, nacionais e internacionais, de diferentes tipos e áreas de atuação, organizações criminosas. Possuem articulações politicas e judiciárias em nível regional e nacional. Redes internacionais para lavagem de dinheiro e ocultação dos lucros. Os três níveis são bem compartimentados, funcionam sistemicamente, se articulam em redes.

Mas algo é comum nos três níveis e permeia toda a rede organizacional: a ilegalidade. Não querem cumprir a lei, não querem pagar impostos, não querem produzir, não querem dar os direitos trabalhistas, não querem a legalidade, não querem o crescimento sustentável da região. Pessoas físicas e jurídicas, de todos os níveis sociais e econômicos, criminosos que só querem usufruir do que não tem direito. Altos lucros, dinheiro sujo gerando dinheiro sujo e destruindo a Amazônia. Tudo dentro da mentalidade medíocre de que o ilegal é “legal”. Combater o crime ambiental na Amazônia não é apenas combater um criminoso ou uma organização criminosa, é combater uma mentalidade criminosa.

Essa mentalidade se sobrepõe às pessoas e às organizações que cometem os crimes ambientais. Ela não se prende, não se embarga, não se multa. Ela tem que ser destruída, aniquilada por um sistema estatal (político, administrativo e jurídico) forte, presente, atuante, tempestivo, capaz de mostrar que não existe compensação no crime, capaz de criar as bases para a construção de uma mentalidade nova, calcada na educação, no respeito, na produção, na sustentabilidade, no crescimento.

Enquanto a sociedade brasileira não acordar para essa realidade, deixar de aceitar ações paliativas e pontuais, não se contentar mais com a postura de governantes de plantão até as próximas eleições, e cobrar ações sérias, duradoras e eficazes, brotarão cada vez mais na Amazônia, operadores de motosserras e PCs do que Castanheiras e Ipês.