POLÍTICA E GEOPOLÍTICA
DEX 35 - O NOSSO “ROADMAP” PARA FORJAR O BRASIL COMPETITIVO
Rui Matsuda - Conselho de Governança do Instituto Iniciativa Dex
O mundo está repleto de “Janelas de Oportunidades”
Cada vez que elas surgem, novas configurações de poder são criadas.
E estamos vivenciando mais uma, neste exato momento.
Moshe Dayan costumava dizer que “se Israel precisasse, algum dia, invadir o Polo Norte, todos poderiam ter a certeza de que haveria um planejamento pronto, detalhado, com todos os meios e condições necessárias para ser colocado em execução. Mas quando ele deveria ser colocado em prática? Isso é outra história. Somente quando os astros estivessem alinhados; ou seja, quando uma janela de oportunidades se abrir no horizonte.”
Por detrás deste pensamento externado pelo ex-Ministro da Defesa de Israel, há inferências importantes a serem extraídas e que nos confere algumas pistas sobre como funciona o mundo em que vivemos.
Se no início, o homem lutava pela mera sobrevivência, hoje os interesses são bem mais complexos. A disputa se dá pela busca do espaço vital, por ideias e ideais.
As mais de 20 milhões de mortes de chineses e judeus durante a Revolução Cultural e o Holocausto, por exemplo, não ocorreram porque um lado tinha que se manter vivo e, para tanto, o outro teria que desaparecer. A explicação é bem mais intrincada, envolvendo o entendimento atual do que é o Poder, de como ele funciona e de como impacta o nosso dia-a-dia.
O Poder
Você pode não saber
Mas ele controla toda a sua vida
Diz o que você pode ou não pode fazer, e como fazer.
Ele, hoje, está no centro das relações da humanidade, definindo quem controla recursos, quem toma decisões, e moldando culturas e decisões. É a força motriz por traz das disputas, alianças e transformações. Portanto, é a forma como as sociedades são organizadas.
Os seres humanos, por natureza, possuem um desejo intrínseco de controlar seu ambiente para garantir segurança, sobrevivência e bem-estar para o seu grupo.
E nunca é demais dizer que, se você não o exerce, alguém o fará em seu nome, pois não há vácuo de poder.
O seu exercício, que surge de uma forma simples na pré-história, evolui como resultado da competição por escassos recursos, por riqueza, territórios ou status. Essa dinâmica se intensifica dia após dia, com a sociedade ficando cada vez mais complexa, tornando aparente grande necessidade de gerenciar conflitos e interesses díspares.
Se fizermos uma leitura da sociedade atual, ela claramente está dividida em classes com diferentes níveis de acesso ao poder, o que cria instabilidades constantes e intermináveis reconfigurações dessa hierarquia.
“O fim da História e o último homem”[1]
A derrocada da União Soviética
E a esperança de um mundo onde o poder, a partir de então, seria exercido com ética
Os anos que sucederam à queda do Muro de Berlim invadiram o imaginário das pessoas, trazendo-nos uma percepção errática de que o mundo, desde então, rumaria para uma direção completamente diferente.
A Nova Ordem Mundial, unipolar, globalizada e globalista, seria de grande prosperidade, fartura e livre de guerras. Em vez da geopolítica, viveríamos a era da geoeconomia. Apregoava-se, até, que a grande maioria dos países deveriam desistir da ideia de ter exércitos. Forças Armadas para quê, se os EUA e a OTAN, em conjunto, estariam aí para sustentar essa Nova Ordem Mundial, tal e qual ocorreu na antiguidade, na “Pax Romana”, período em que o Império Romano conseguiu impor uma situação de relativa tranquilidade e estabilidade e que perduraria por mais de duzentos anos?
Nada mais falso. Poucos anos depois desses utópicos anúncios, já convivíamos com novos e emergentes núcleos de poder afrontando a Nova Ordem Mundial.
A Guerra do Golfo, o ataque às Torres Gêmeas, as Guerras do Afeganistão e do Iraque jogaram por terra todo esse romantismo apressado que dava conta de que o ser humano, como que num passe de mágicas, teria chegado ao fim de um ciclo de evolução política e social, e que, a partir de então, das reuniões de condomínios à arbitragem do preço de petróleo, tudo seria resolvido pelo bom senso e pela racionalidade do homem desta nova era.
O que vimos, na sequência, é que China e Rússia voltaram ao tabuleiro estratégico, e com força total, pois nunca abriram mão do histórico direito de serem grandes impérios, mostrando que EUA e UE não teriam vida fácil, neste século.
Mas não era só isso.
Aquele cenário simplificado de competição de Estados contra Estados ficou para o século passado. Neste, a globalização/globalismo deram ensejo a uma nova dinâmica de relações, facilitando a construção de diferentes núcleos de poder, neste caso não-estatais, como as máfias servias, russas, iranianas e albanesas. Elas se juntaram às chamadas organizações não-governamentais, como a “Open Society” e “Fundação Rockefeller” para criarem um cenário geopolítico completamente diferente, com centenas de núcleos de poder competindo por espaço com o próprio poder dos Estados.
O exemplo clássico é o da Russia de Putin, associando-se temporariamente ao Grupo Wagner, que abrigou parcela significativa da máfia russa, prisioneiros e malfeitores, para operar na chamada vertente da área cinzenta, entre a situação da paz e da guerra; ou seja, numa extensão informal dos interesses do Kremlin. Eles levaram suas ações, não só para a Ucrânia, mas para outras diversas partes do mundo, como o Oriente Médio e África.
Enfim, o cenário estratégico atual está muito mais para um “Game of Throne”[2], do que para o da Nova Ordem Mundial idealizada pelos arquitetos da Governança Mundial: Henri Kissinger, George Soros, Klaus Schwab, Brzezinski, Nelson Rockefeller, dentre outros.
Na realidade, o que se vê é que o mundo estava, e ainda está, em mais um processo de grande metamorfose, assim como ocorreram por diversas vezes ao longo de toda a sua história, o que significa dizer: mais uma janela de oportunidades aberta.
A estratégia
As Janelas de Oportunidades
E a diferença entre a aventura e a audácia.
Mas, voltemos ao início, ao pensamento de Moshe Dayan, e dele extrairemos outra importante mensagem: a que fala que Israel está com seus planejamentos prontos, mas que só deverá atuar quando a janela de oportunidades se abrir.
Nada de novo para os que se dedicam a estudar e entender um pouco sobre estratégia e como ela impacta o mundo em que vivemos.
Nesta matéria, dificilmente há lugar para improvisações, metas de curto prazo e achismos. Insights, inspirações e arrojo são bem-vindos, mas eles são a “cereja do bolo”, o valor final agregado a um necessário planejamento cuidadoso e meticuloso que deve precedê-lo.
É aquele campo de batalhas em que se torna necessário diferenciar, muito bem, os aventureiros dos audaciosos.
Almyr Klink era um audacioso; um estrategista por natureza. Desafiou seus próprios limites ao colocar como objetivo cruzar o Atlântico, em 1984, sozinho, num barco a remo. Mas, para tanto, preparou-se de forma extremamente cuidadosa, envolvendo detalhado planejamento que analisou, por exemplo, várias histórias de sucessos e de fracassos, incluindo relatórios criteriosos de outros navegadores que tentaram realizar travessias similares. Aspectos técnicos, físicos, psicológicos e logísticos, com seus mais de três anos de estudos pormenorizados das correntes marítimas e dos ventos, não escaparam do seu programa de preparação. E para vencer a solidão dos cem dias que duraria o desafio, buscou um rígido condicionamento mental, lidando diariamente com o silêncio, o tédio e o treino para enfrentar adversidades de todos os tipos. Muitos e muitos ensaios foram feitos, de forma exaustiva, antes da travessia real. Por fim, foram nada mais, nada menos, que seis anos de preparação.
Com objetivo semelhante, um padre brasileiro, em 2008, também se dispôs a cruzar o Atlântico, mas numa espécie de cadeira sustentada por centenas de balões inflados por gás hélio. Durante a jornada, anunciada com estardalhaço pela imprensa, os balões começaram a se romper. Seu corpo só foi encontrado três meses depois, próximo ao litoral do Rio de Janeiro. Ficou conhecido como o “Padre do Balão” e sua história continua sendo lembrada como uma lição de coragem e imprudência, quando a falta de planejamento, a improvisação e a inexperiência levaram ao fatídico e inevitável resultado final.
Enfim, se analisarmos cuidadosamente os ensinamentos acima elencados, chegaremos à conclusão de que o cenário atual exclui todos aqueles que tratam o complexo jogo do poder como um simples exercício de aventuras, ainda que com coragem e destemor.
A hierarquização dos países e organizações por níveis de poder nada tem a ver aventura, mas com audácia. Não há espaço para amadorismo, falta de planejamento e de competência estratégica quando se trata de aproveitar janelas de oportunidade, dentro do tabuleiro geopolítico global.
O homem, o arco e a flecha
Como aproveitar as Janelas de Oportunidades que se abrem?
Em seu livro, “O homem, o arco e a flecha”[3], o escritor Luiz Fernando Pinto aponta um importante momento da evolução da humanidade, no instante em que o homem pré-histórico inventa o arco e flecha como forma de substituir o elementar processo de arremessar pedras para atingir seus alvos. Muito mais do que a concepção de uma nova ferramenta, estes instrumentos mudaram toda uma forma de pensar e de agir do ser humano, na sua longa história evolutiva.
Com o arco e a flecha, o homem potencializou suas capacidades e habilidades. Ele percebeu que era possível, agora, alinhar habilidades, intenções e equilíbrio interior, assim como numa ação estratégica, nos dias de hoje.
O arco representa uma ferramenta que multiplica o alcance e potencializa a capacidade de exercitar todo o prévio preparo, a paciência, a astúcia, a dissimulação, a camuflagem, pois você pode atacar, escolhendo a hora e o local e sem precisar estar sendo visto pelo alvo.
A flecha simboliza nossas intenções e objetivos.
O arqueiro, por sua vez, pode e deve aprender cada detalhe de seu instrumento, definir bem o local, a hora e o seu alvo, entender o ambiente à sua volta que sofre influência dos sons, do vento; precisa também alinhar ambos, alvo e arco, com precisão, equilíbrio, paciência e controle.
O autor utiliza este enredo para que melhor entendamos a importância da estratégia nas nossas vidas.
Todo este somatório de ações fizeram o homem ascender vários degraus na escala de poder, ao que Luiz Fernando chamou, metaforicamente, de capacidade para acumular “competências estratégicas”, para, por fim, alcançar-se o estado final de “maturidade estratégica”.
Quando uma pessoa, organização ou nação conseguir acumular um conteúdo importante e necessário de competências estratégicas, então ela terá alcançado o nível de competência estratégica, situação na qual ela terá as condições para “lançar suas flechas, bem alinhadas com as janelas de oportunidades que surgirem, atingir seus alvos” e ascender na escala de poder global.
Dex 35
O nosso “roadmap” para forjar o Brasil Competitivo
Por tudo o que foi exposto anteriormente, o Iniciativa Dex acredita na audácia para colocar o Brasil no Top Five das nações.
Para que aproveitemos a próxima janela de oportunidades que há de se abrir, precisamos, até lá, rápida e audaciosamente, construir, paulatinamente, uma série de competências estratégicas que nos faltam. Assim, passo a passo, atingiremos o grau de maturidade suficiente para, de uma vez por todas, deixarmos de ser o eterno “País do Futuro”
Não há atalhos para este caminho.
Uma vez mais, infelizmente, o Brasil, está deixando de aproveitar a atual janela aberta pois nos falta competência e maturidade estratégica, coisa que vem sobrando para a China, Rússia, Índia, Coreia do Sul, Cingapura, Israel, por exemplo. Até países de expressão bem menos significativas, como Estônia, Chile e Vietnã[4] podem aproveitar melhor a complexidade do momento atual para saltar à frente do Brasil.
Enfim, não há dúvidas de que continuaremos a ser, por um tempo mais, o “País do Futuro”.
Resta-nos pensar nas próximas janelas, sendo mais que imperativo nos prepararmos para este momento futuro.
Com este objetivo em mente, o nosso Instituto iniciou os trabalhos para o “Dex 35”. Um minucioso e complexo projeto encomendado ao nosso Centro de Estudos Estratégicos (CEE DEX), de forma a avaliar e forjar as competências estratégicas necessárias para não desperdiçarmos nenhuma nova oportunidade, tornando o Brasil o "País do Presente", competitivo, soberano, participante e com voz ativa no ordenamento mundial, um dos Top Five mundiais, deixando de ser um eterno caudatário de outros centros de poder.
E vamos começar esse trabalho pela base; de baixo para cima; entendendo a importância dos mais de cinco mil e quinhentos municípios brasileiros, espalhados nos seus quase nove milhões de quilômetros quadrados, na sua maioria totalmente despreparados para enfrentar os desafios deste século XXI.
Há déficit de tudo: de recursos humanos e materiais, de educação, saúde, de conhecimento, de gestão, de consciência política, segurança.
Na outra ponta, estados e governo federal tentando controlar o incontrolável, pois age-se nas consequências, não na origem dos problemas.
Nesse diapasão, o CEE DEX, começa o seu trabalho do Roadmap para forjar um Brasil competitivo, juntando uma gama de estrategistas e especialistas capazes de realizar estudos e elaborar projetos consistentes, objetivos e viáveis para que consigamos resolver nossos principais problemas estruturais.
Propósito, persistência e paciência
Virtudes estratégicas para quem quer ser vencedor
Concluindo, como nos fala Carlos Aldan[5], integrante do CEE DEX, “somos uma Nação com um território riquíssimo, com uma diversidade cultural imensa, um mercado interno em constante expansão, riquezas naturais inigualáveis, vantagens comparativas e competitivas significativas dentro do contexto global de escassez de talentos (nossos executivos são melhor preparados do que o da maioria dos outros países). Somos também o país da segurança alimentar, ambiental e energética. Quando alinharmos esse potencial a um planejamento estratégico audacioso e bem coordenado, envolvendo todos os setores da sociedade, e transformarmos o mindset mencionado acima, poderemos alçar o Brasil a um patamar de nação-líder, reconhecida por sua inovação, competitividade e protagonismo nas grandes decisões globais.
Para tanto, necessitaremos de propósitos, persistência e paciência, virtudes estratégicas necessárias para fazer com que o Brasil não venha a desperdiçar, uma vez mais, a próxima janela de oportunidades que, seguramente se abrirá, num futuro próximo.
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[1] Referência ao livro “The End of History and the Last Man” de Francis Fukuyama, 1992, Editora Free Press. O autor apresenta a sua ideia, tão logo a URSS é derrotada, da vitória do liberalismo democrático e capitalismo, apontando que este é o estágio final da evolução política da humanidade e que, a partir de então, viveríamos, supostamente, um cenário de grande prosperidade e de paz.
[2] O filme pode ser interpretado como a tentativa de trazer uma visão realista da política ao longo da história da humanidade, onde o poder é o principal motor das relações, com suas alianças temporárias, espúrias e baseadas em moralidade obtusa, onde o objetivo principal é a expansão da influência individual e do grupo defendido. Ainda no enredo, vê-se várias tentativas de se formar uma aliança global que integrasse os Sete Reinos, mas que sempre sucumbiram, deixando, ao final, a percepção de que ainda estamos longe, muito longe do mundo perfeito e romântico como a maioria das pessoas bem intecionadas imaginam.
[3] O Homem, o arco e a flecha, Luiz Fernando da Silva Pinto, Editora FGV, edição 2004.
[4] O Vietnã, por exemplo, vem apresentando taxas de crescimento econômico da ordem de 6% a 8% ao ano, já por um bom período de tempo, despontando como um dos possíveis e futuros “Tigres Asiáticos”, tal qual já ocorreu com o Japão, Coreia do Sul, Taiwan, Cingapura e China. Custos trabalhistas competitivos, programa de atração de grandes empresas, fortes investimentos em formação técnico-profissional e foco na integração de cadeias de valor globais são exemplos de um sistema de planejamento que começou no início deste Século e que agora começam a render frutos.
[5] Carlos Aldan de Araújo, além de mebro do CEE DEX, é CEO e cofundador do Grupo Kronberg. Tem especialização em neurociências pelo Life Coaching Institute (Carolina do Sul – EUA) e membro do Abundance 360, programa de maior nível do Singularity University, conduzido por Peter H. Diamandis, MD, fundador da Singularity. Possui ainda MBA pela Hull University da Inglaterra, Master em Inteligência Emocional em São Francisco (Califórnia). Autor do livro “Prospere – com inteligência emocional no mundo em desordem”, 2024, Editora Matrix.