OPINIÃO

E AGORA, JOSÉ?

Neste artigo, o Centro de Estudos Estratégicos do Iniciativa Dex mostra que o mundo ESG/Woke pode ter sido apenas um modismo inflado sob uma lógica mercadológica, por parte de poderosos grupos do mercado, para auferir lucros e poder. Neste momento, podemos estar vivendo o ápice desse modismo, instante em que esses mesmos grupos perdem o interesse e deixam de investir na sua continuidade.

 

Consequência disso, estas práticas que englobam uma série de ações “eticamente responsáveis”, desde a redução das emissões de carbono até a repressão à discriminação no local de trabalho, podem estar perdendo grande parte do fôlego inicial.

 

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BLACKROCK E A  “NOVÍSSIMA ORDEM MUNDIAL”

 

Larry Fink é o todo poderoso CEO e fundador da BlackRock, considerada a maior empresa de gestão de investimentos da face da terra. Na realidade, é mais que isso. Ela, em conjunto com outras organizações congêneres, como a Vanguard, Amazon, Microsoft, e algumas ONGs, como Open Society, Fundação Gates, Fundação Ford, são chamadas de “donas do mundo”, não se dedicando exclusivamente a ganhar dinheiro, mas a exercer parcela significativa do poder em disputa no cenário geopolítico atual. Com o faro apurado por grandes oportunidades, elas perceberam que o mundo estava em plena transformação e que o poder não era mais um exercício exclusivo  de  Estados, naquele modelo westfaliano tradicional.  O Século XXI trouxe consigo os ventos da Era Informacional. O crescimento exponencial do conhecimento proporcionou a descentralização e a criação de diversos núcleos de poder paralelos. Hoje, o Estado precisa disputar espaço com enormes grupos político-empresariais cujo valor de mercado pode ser maior do que o PIB de muitas das maiores economias do mundo. Os ativos de mercado gerenciados pela BlackRock passam de 10 trilhões de dólares. Já o PIB do Brasil em 2023, a título de comparação, foi calculado em pouco mais de 2 trilhões de dólares.

 

Neste cenário de atomização do poder, descrito pelo escritor Moisés Naím como a Era do Micropoder, estes núcleos não-estatais investem na desconstrução da estrutura do poder tradicional para erguer outra em seu lugar. Destruir para poder construir. Evidentemente, quem tem o ouro dita as regras, e quem dita as regras tem a vantagem de escrever todo o script do filme, inclusive o seu capítulo final.

 

Nada de novo aí, pois essa mesma lógica é utilizada em várias estratégias de poder ao longo da história, por exemplo, nas bolsas de valores. Destruir para poder construir.

 

E neste ambiente de apostas bilionárias, sempre existirão, e vão continuar existindo, os “tubarões” e as “sardinhas”.

 

Os “tubarões” são aqueles que modelam o cenário e ditam as regras do jogo no mercado de capitais. Provocam crises artificiais ou criam ambiente de prosperidade econômica, segundo seus interesses. Como são eles que influenciam tais ambientes, sabem exatamente quando comprar (quando os preços estão na baixa – na crise) e quando vender (quando os preços se aproximam da máxima – na prosperidade). Algum tempo depois de os “tubarões” começarem a comprar, os preços sobem, sobem um pouco mais, e mais um pouco. Aí entram em cena as sardinhas, animadas com o ganho exponencial de quem já comprou. E compram desesperadamente. Compram mais e mais. Os preços sobem ainda mais. E quando aquele imenso cardume de “sardinhas” se maravilha com a grande valorização alcançada, os tubarões começam a sair de cena lentamente, sem que as sardinhas percebam o movimento. Já ganharam seus milhões, bilhões de dólares. Ao saírem, os preços começam a cair. O fim desse filme, todos já conhecem. Os tubarões, já fora desse jogo, desfrutam seus vultosos lucros ao sabor dos “chandons”, “cohibas behike”, dentro de seus iates de luxo no Caribe, enquanto as “sardinhas” esperam um pouco mais, e mais um pouco. “Deve ser uma oscilação pontual e momentânea”, dizem uns aos outros. Mas aí, alguns não aguentam e vendem seus ativos. Os preços caem mais um pouco. E continuam caindo. Seus lucros momentâneos se derretem tal e qual o gelo no deserto, ainda esperando uma possível reversão do mercado que não chegará, maliciosamente noticiada e manipulada pelos especialistas em mercado de capitais, logicamente, muito bem pagos pelos “tubarões”.

 

Pois essa lógica é a mesma que a turma comandada por Larry Fink está se utilizando para, neste momento, manipular o cenário estratégico mundial. Eles são os tubarões da geopolítica atual.

 

Não foram eles que inventaram o progressismo, o politicamente correto, a moda woke. Mas entenderam que boa parte dos seres humanos é movida pelo romantismo das fantasias; a busca do mundo ideal sem se importar como.

 

E que tal, então, “inflar essa bolha” fazendo as pessoas consumirem, comprarem, fazerem projetos, abrirem cursos, darem palestras, terem de certificar suas empresas, tudo em prol da “salvação do mundo” que vem sendo, dia após dia, destruído pelo capitalismo nefasto e egoísta???

 

A lógica é: ou você e sua empresa seguem os preceitos do ESG, woke, LGBTQIAP+, ou simplesmente, vocês não existem para o mundo.

 

Pois essa é a lógica: dinheiro e poder.

 

Essa turma de tubarões cheirou oportunidades ao perceber que tinha uma moda a ser explorada e começou a “cacifar” o mercado, ainda no início deste século.  Uniu-se aos progressistas e globalistas e passou a alimentar a percepção de que o mundo estava sendo destruído e que todos precisavam INVESTIR na sua salvação. Em outras palavras, as “sardinhas” precisavam comprar ativos dos politicamente corretos. Um mercado de trilhões de dólares.

 

MAS É CHEGADA A HORA DE REALIZAR OS LUCROS!

 

Aconteceu recentemente.

 

Larry Fink, explica por que há uma onda de abandono dos fundos ESG” – esse é o título da Forbes Money publicado em 24 de fevereiro, deste ano.

 

Neste texto, o articulista Bob Ivry explica:

    

“Estes são tempos difíceis para o “woke investing” (investimento que leva em conta causas sociais, ESG, etc.), a prática combativa de Wall Street de fazer bem, fazendo o bem. Pela primeira vez, desde que a estratégia nasceu na década de 2010, há mais investidores americanos abandonando fundos negociados em bolsas ambientalmente responsáveis ​​do que comprando. Neste mês, três dos maiores gestores de recursos nos EUA se retiraram de um acordo empresarial de alto nível sobre o clima.

    

E o próprio Fink declara na sequência:

    

"Não uso mais a palavra ESG, porque ela foi totalmente politizada... pela extrema esquerda e pela extrema direita".

    

Na mesma direção, a Natura & CO, empresa brasileira de cosméticos que mergulhou de cabeça nas práticas ESG, encerrou o quarto trimestre de 2023 com prejuízo líquido consolidado de R$ 2,662 bilhões, uma perda 199% maior que a registrada no mesmo intervalo de 2022.” (Info Money – Mar 2024).

    

Assim, pelo que parece, Fink e seu grupo já começaram a armar seu discurso para justificar suas saídas à francesa do cenário que eles próprios insuflaram, mais de dez anos atrás. Os lucros já estão garantidos.

    

E AGORA, JOSÉ?

 

Esta pergunta fica para os progressistas e globalistas.

    

O mundo idealizado e ideologizado pela esquerda começa a mostrar sinais de rupturas.

    

Parece que o Admirável Mundo Woke é mais um daqueles casos típicos de “balõezinhos” que foram inflados artificialmente pelos capitalistas de ocasião com o firme propósito de, simplesmente, construir uma nova lógica mercadológica, ganhar seus trilhões de dólares e, na sequência, abandonar o barco, deixando o prejuízo, neste caso, para o bando de ativistas que acreditavam que estavam salvando o mundo de sua destruição. Foi construído por sobre uma lógica de modelagem de percepções, um marketing muito bem elaborado, mas com um produto duvidoso, que nunca entregou valor a quem realmente deveria entregar: a própria população marginalizada, necessitada e excluída. Ela foi, sim, utilizada como “massa de manobra” para o atendimento aos interesses escusos de novos grupos de poder que pretendiam, simplesmente, substituir os que lá estavam. Nada mais que isso. É o poder pelo poder. Simples assim.

    

E agora, José?

    

Com a palavra, os progressistas e globalistas!