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POLÍTICA E GEOPOLÍTICA

 

 

O ILUSÓRIO TRIUNFO DA MEDIOCRIDADE

Agir emocionalmente é expediente dos desprovidos de argumentos. Debater com "iluminados" - definitivamente, é perda de tempo.

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Por Antonio Fernando Pinheiro Pedro

 

"Não deem o que é sagrado aos cães, nem atirem suas pérolas aos porcos; caso contrário, estes as pisarão e, aqueles, voltando-se contra vocês, os despedaçarão."

Mateus 7:6

 

Triste é a nação que desaprendeu a pensar e aboliu, no seu seio, o direito de discordar. 

 

BUSCANDO O BÁSICO

 

Buscar conhecimento e trocar ideias com quem pensa diferente, pressupõe atitude positiva, proativa e propositiva do interlocutor.  Esse é o núcleo da inteligência de qualquer democracia.

 

Fóruns de discussão e de debates, virtuais ou presenciais, são ambientes destinados a isso. Aliás, desde o período clássico, berço do pensamento democrático ocidental, o termo "fórum" é sinônimo de praça pública para a discussão e troca de ideias sobre temas comuns. Nesses espaços se desenvolve o livre debate, com garantia do contraditório, com ganhos para a Justiça e para os horizontes do conhecimento humano.

 

O MANTO DA ESCURIDÃO

 

A escuridão do rancor parece estar drenando a luz do conhecimento, cobrindo o livre debate com o manto da arrogância.

 

É fácil diagnosticar o mal.  Basta observar o comportamento dos grupos de discussão nas redes sociais e sentir o ambiente nos eventos de debates voltados à questões de interesse difuso, como as de ordem ambiental ou climática. Sejam eles produzidos por hostes governamentais ou entidades acadêmicas, o foco da troca de ideias e impressões perdeu-se há muito no proselitismo e na radicalização intolerante.  

 

Há um clima generalizado de assembleia estudantil (de má qualidade), ou de madrassa (onde todos rezam o livro sagrado em uníssono). Nessa escuridão, a massa articulada parece se incomodar profundamente com quem ousa pensar fora da caixa da mediocridade ali consensuada. A mínima luz... é suficiente para gerar um enxame.

O "consenso", hoje, censura a divulgação dos fatos, reprime análises divergentes, condena manifestações discordantes e suprime registros "desconformes".

 

Reina, das mídias tradicionais ao bate-papo em família, ou no boteco da esquina, um clima hipócrita de "concordância", desenhado sobre a lápide do livre pensar - reprimido pelo medo de "desagradar".

 

Seria isso um "triunfo dos medíocres"?  

 

Com certeza, não. O ocidente já passou por inúmeros apagões de inteligência, em forma de pandemia, e sobreviveu.

 

Nosso problema é que, no Brasil, a doença da mediocridade parece ter se tornado crônica.

Por aqui, o tratamento será amargo. Irá demandar firme propósito e determinação.    

 

SIGA A LUZ, NÃO A VERDADE

 

O clima no mundo "woke" ocidental, parece condenado à permanente inquisição. No regime dos ressentidos, prevalece a "caça às bruxas" e a condenação dos "negacionistas" à fogueira. Algo próximo à barbárie medieval - e bem distante da civilização. 

 

"Crentes" climáticos, progressistas, identitários e biocentristas, destroem e estigmatizam as próprias bandeiras. Terminam moralmente inferiorizados e determinados a manter estreita a própria mente - autocentrados nos seus propósitos seletivos, deslumbrados com um autoprotagonismo construído no cenário tosco da mesmice. 

 

Fóruns de debates proliferam nesse ambiente de perversidades, poluídos por "militantes da causa" travestidos de autoridade, dotados de reatividade emocional e prontos a disparar surradas palavras de ordem e dogmas "confortáveis", a título de aparentar conhecimento.  

 

No campo da política e da guerra legal - os conflitos assimétricos estimulados pelas hordas progressistas, biocentristas ou identitárias, se somam contra quem defende valores ocidentais consagrados. Isso decorre da constatação dolorosa que, para seguir valores ou manejá-los com pendor crítico, é preciso ser dotado de coragem moral e domínio da razão - algo que os medíocres sabidamente não possuem.

 

A mediocridade, já o disse inúmeras vezes, é solidária. Assim, os infelizes mimetizam um conforto intelectual que sabem não possuir. Intentam fazê-lo ao buscar refúgio uns nos outros, para conferir alguma sensação de segurança às suas estreitas certezas, todas encerradas num mesmo viés.  

 

SINTOMÁTICO

 

Exercitar o raciocínio é um excelente remédio. 

 

Convenhamos: no ambiente dos proselitistas, não há horizonte a ser ampliado, pois o cenário será sempre o mesmo. O resultado será o recalque, despejado sobre qualquer um que ouse tirar os ensimesmados da "zona de conforto" das unanimidades plenas de certezas.

 

É sintomático: o problema, há muito deixou de ser político ou científico. Ele é de ordem psicológica.

 

Essa mesmerização infundida na massa de propensos a pensar com a cabeça enviesada, transfere para o divã do analista não apenas o comportamento intolerante; transfere também as próprias instituições de Estado.

 

As instituições deveriam proteger o livre debate e a livre manifestação - mas não mais o fazem, por estarem contaminadas pelo vírus da mesmice ignorante (e, por consequência, da arrogância).  

 

Na crise de conflitos identitários, de identidade e de valores, toda funcionalidade colegiada se dissipa no palco montado pelos medíocres ensimesmados. Debates transformam-se em inquisições e subjetividades destroem a objetividade, seja qual for a análise crítica e racional dos fatos e cenários. 

 

O Estado dito "moderno" - nos moldes ocidentais, está contaminado por esse vírus. Além de gigantesco, balofo e gastador, o Poder Público desponta sintomaticamente ensimesmado, imobilista e destinado à entropia. Um ente imerso na desorganização social e psíquica, tomado pela desordem, por crises de valores e conflitos internos não resolvidos. 

 

Um Estado à deriva gera o caos, libera nas pessoas emoções reprimidas e desintegra o tecido social; algo em perfeita associação conceitual com a entropia física.

 

TEM SAÍDA!

 

É nesse estágio que a arrogância corrói o medíocre - e o valor individual faz a diferença.

 

Nestes termos, emitir sinais de discordância e, pior, revelar que possui inteligência espacial - assim definida como a capacidade de percepção, visualização e transformação de cenários e contextos - é um risco. Algo como se expor a sugadores de energia. E os sugadores são incapazes de pensar fora da caixa de ferramentas, dentro das quais vivem apertando os mesmos parafusos - daí a referência bíblica posta no início do texto.

 

Mas, consenso não é dogma. Ciência, portanto, não é questão de fé e sim, de dúvida. 

 

No campo político, a defesa intransigente à liberdade de expressão define a fronteira entre os moralmente superiores e os hipócritas, que forjam o monopólio de uma moralidade peculiar.  

 

No campo do conhecimento, da educação e da ciência, a pesquisa científica avança com a dúvida e a busca de novos paradigmas. Debater teses ou estabelecer posições críticas a consensos eventuais, não torna o cético "pecador". 

 

Nenhuma titulação está acima do conhecimento. Por sua vez, erudição sem cultura é mera decoração de vitrine.

 

A saída está no estoicismo, na resiliência intelectual e na prática contínua da busca de conhecimento. O desconforto deve servir de estímulo, jamais de pretexto para o desânimo ante a estupidez dos arrogantes.

 

Questione, pergunte, reaja com humildade e aprenda com o alheio.

 

Importante anotar que a omissão e a covardia contribuem para incrementar a mediocridade. No entanto, isso é miragem para iludir tolos. 

 

Covardes se omitem, e angariam apenas o desprezo de qualquer um que esteja agindo, seja de que polo for.  Os omissos terminam, no entanto, diluídos na imensa maioria silenciosa, que tudo vê, ouve e lê... e que forma o juízo da razão.  

 

A maioria silenciosa é importante. Merece conhecer e compreender as vozes que concordam e, sobretudo, as que discordam da manada. 

 

Ignore o "efeito-manada", A manada é indistinguível, órfã de personalidade.

 

Agir emocionalmente é expediente dos desprovidos de argumentos. Debater com esses "iluminados" - definitivamente, é perda de tempo.

 

Pratique a reflexão e a tolerância. 

 

Na verdade, o tempo sempre foi e continuará sendo, o senhor da razão.

 

 

PORTANTO, PERSEVERE.  

 

 

 

 

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Antônio Fernando Pinheiro Pedro

É advogado (USP), jornalista e consultor ambiental. Sócio fundador do escritório Pinheiro Pedro Advogados, é Diretor da Agência  de Inteligência  Corporativa e Ambiental  - AICA. Preside a UNIÁGUA - Instituto Universidade da Água e integra o Conselho Superior de Estudos Nacionais e Política da FIESP. Membro do bicentenário Instituto dos Advogados Brasileiros -I AB, integrou o Green Economy Task Force da Câmara de Comércio Internacional,  fundou e presidiu a Comissão de Meio Ambiente da OAB/SP e responde por importantes obras de consultoria prestados a organismos multilaterais sobre o tema da sustentabilidade. Jornalista, é Vice-Presidente da API e Editor-Chefe do Portal Ambiente Legal. Responde pelo blog The Eagle View.